terça-feira, 17 de junho de 2008


Não deu tempo.
Maíza ou Maísa seja lá como for, se calará por 10 anos.
Estava escrito na metade do visor de sua calculadora, lá mesmo, no cantinho que ainda funcionava.
Lá dizia que se calaria e não sorriria por dez anos. O desejo dela era de conseguir ter de volta a amizade de três pessoas que por culpa de terceiros, haviam se afastado, que só ela e Deus sabiam que eram, dizia também que a promessa era muito verdadeira e que se fosse mentira seria um grande pecado. Que iria cumprir a promessa custe o que custar.
Tremi. Não sabia o que fazer, li e reli sua mensagem umas três vezes, nunca vi coisa tão bonita num canto de uma calculadora. Mesmo achando lindo esperei acabar pra dar o sorriso obrigatório e inevitável do final, tentei acreditar que tudo não passava de uma brincadeira, mas ainda esperava o final.
O sorriso não veio da boca de Maísa.
Lembrei de Maísa nas ocasiões em que ela aparecia e estava sempre calada, cumprindo a promessa de não falar durante um ano e meio, cumpriu. Eu estava presente quando voltou pronunciar palavras, via você mostrando seus objetos esquisitos que tirava de dentro do short cor de rosa que sempre acompanhava a blusa jeans e havaianas. O relógio com pulseira de elástico que ela mesma colocou, e dizia que não entendia porque não tinha valor assim como todos os outros relógios e que nunca sabia o que dizer quando alguém perguntava se estava tudo bem.
Para Maísa nunca estava tudo bem.
Arrancava os cabelos e achava que quando nascessem novamente, voltariam a ser lisos como na sua infância.
Como teria sido a infância de Maísa?
Sempre muito bem educada, com todos os por favores e desculpas que fossem necessários. Não se cale Maísa. Concordei com você em 101% das coisas que você falou sobre o comportamento humano e futilidade de viver. Eii, volta please!
Lembro da última vez que te vi, não gostei da expressão triste, parecia que queria entender o mundo e a razão de viver naquele exato momento.
Observei-te de longe, senti um aperto e comecei a refletir, e percebi que todos os meus problemas pareceram uma gota no oceano do mundo de Maísa.
E nem deu tempo de perguntar Z ou S.
Maísa calou-se ali na minha frente, por dez anos.

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