domingo, 21 de setembro de 2008

Vivendo e aprendendo

Ivana nasceu de uma gravidez não planejada, e sempre soube disso. Foi a primeira intuição que teve, das mais dolorosas. Depois teve certeza, da boca de sua própria mãe, que entre uma bebedeira e outra nem hesitou em falar, transformou aquele coração infantil em um coração cheio de mágoas, ela não pediu pra nascer, e também nem precisava saber disso. Pais boêmios. Ele, publicitário adorador de balcão de boteco. A mãe sempre expansiva, na juventude teve vários namorados, desde sua terra Natal, cidadezinha do interior do Nordeste. Mulher culta, que tinha como hobby predileto mesas de bares depois do expediente com seus colegas de trabalho.
Algumas vezes esses pais boêmios deixavam Ivana em casas alheias, e caiam na gandaia. Iam buscá-la na Segunda ou no fim de Domingo, o sentimento de abandono foi marcante na vida dessa garota, sentia uma melancolia indescritível e precoce demais, isso aos cinco anos, aproximadamente. Certa vez, deixou a casa onde estava, e foi a pé até sua casa, e encontrou as portas trancadas, sentou-se na calçada à espera da mãe. Cada vez que isso acontecia, Ivana refletia sobre o amor e rejeição. Foram as primeiras experiências. Solidão, abandono, coisas terríveis ainda viriam na vida da pobre Ivana.
Ela parecia apreciar mais a companhia do pai, que conversava com ela como se fosse adulta, condizente com o que faziam com ela. Com as coisas que faziam sentir, uma adulta. Ivana aos poucos ia crescendo com as dores, cresceu muito, sentiu muito. Aos seis, parecia ter vinte, aos nove, perdeu o pai. Morte súbita e até hoje misteriosa. Ela sentiu com antecedência - aperto no peito - algo estava acontecendo com seu pai - sua segunda e pior intuição; No velório, pegou um buquê de flores e distribuiu meticulosamente uma por uma ao redor do corpo do pai, arrancando lágrimas dos adultos ali presentes. Seu mundo caiu, e em cada rosa, depositava todo amor que sentia por aquele grande homem, seu herói, o mais lindo dos homens. Amor que fez Ivana querer ser que nem ele. Ivana não tem nem a metade do talento desse grande homem, mas busca em todo momento inspiração pra viver. Ivana demorou pra aceitar a morte do pai, volta e meia sonhava com ele, lembrava da voz, do rosto. Com o passar do tempo, os sonhos eram mais esporádicos, aos poucos a voz ia sumindo, já nem sonhava mais com ele, vez ou outra sonhava que ele estava no exterior e que ia voltar. Era difícil entender porque Deus levava as pessoas que amávamos, era o que Ivana mais questionava, se revoltava contra Deus.
Ivana continuou assim, com um vazio que a fez crescer dez anos a mais. Transformou-se em uma menina tímida e medrosa. Não participava das brincadeiras com as outras crianças. Na adolescência, gostava de escutar no seu inseparável fone de ouvido, Jonh Lennon, Pink Floyd e Caetano Veloso. Enquanto as outras brincavam, corriam – ela não via menor graça nisso.
Hoje, Ivana, balzaquiana, está só, como sempre esteve. Lembra do pai como um anjo. Tem uma mãe como um exemplo de força. Tenta se realizar profissionalmente. É solteira, mas sonha em construir uma família. Acredita em Deus, sem revoltas. Tem vícios. Tem medos. Carrega o peso de vitórias e derrotas. Tem vários amigos, e acha que todos eles foram presentes de Deus. É uma garota admirável, tem alguns fãs, mas é modesta. Se tiver que fazer alguém sofrer pra ser feliz não pensa duas vezes. Aprendeu a ser humilde, e a valorizar as coisas simples da vida, a respeitar o próximo. Já fez sofrer, mas sofreu tudo em dobro, aprendeu. É super carinhosa com quem gosta. Aprendeu que tudo passa, até as mais sofridas decepções. Impressiona-se fácil com a maldade alheia. Odeia Natal. Tem uma gargalhada deliciosa. Tem um coração que cabe o mundo.
E cara, eu sou fã dessa garota.

Um comentário:

Anônimo disse...

POHA...
ducaralho!
tudo com muita coerencia, gostei do que li, luuuuu!
bju pra tu